Mulheres que pensam a arte: intelectuais e críticas indispensáveis

Conheça autoras latino-americanas que têm transformado a crítica de arte com pensamento feminista, decolonial e engajado.

A história da arte tem sido, por muito tempo, escrita por mãos masculinas. No entanto, é impossível compreender a arte contemporânea, suas tensões, deslocamentos e reinvenções, sem considerar o trabalho intelectual de mulheres que escreveram, analisaram e moldaram o campo da arte com rigor, sensibilidade e radicalidade. Este texto reúne algumas das principais mulheres que escreveram (e escrevem) sobre arte, com diferentes origens, formações e abordagens, mas com uma contribuição comum: desafiar o pensamento dominante.

Linda Nochlin (EUA)

“A pergunta ‘por que não houve grandes mulheres artistas?’ é baseada em suposições erradas.”, Linda Nochlin, 1971

Professora, crítica e pioneira dos estudos feministas na história da arte, Nochlin abalou as estruturas acadêmicas ao publicar o ensaio “Why Have There Been No Great Women Artists?”, em 1971. Seu texto é leitura obrigatória para qualquer artista ou pesquisador que deseja pensar criticamente os filtros ideológicos da historiografia tradicional.

Lucy Lippard (EUA)

Crítica, curadora e ativista, Lucy Lippard fez história com sua obra Seis Anos: A Desmaterialização do Objeto Artístico (1973), em que documenta e analisa a arte conceitual entre 1966 e 1972. Apoiadora de práticas feministas e engajadas, foi uma das primeiras intelectuais a cruzar arte com política de forma sistemática.

Obra: Six Years: The Dematerialization of the Art Object from 1966 to 1972

Rosalind Krauss (EUA)

Teórica influente e fundadora da revista October, Krauss trouxe novos parâmetros para o estudo da arte moderna e contemporânea. Em obras como The Originality of the Avant-Garde and Other Modernist Myths, ela problematiza conceitos como originalidade, autoria e campo expandido da escultura.

Leitura recomendada: Passagens da Escultura Moderna (edição brasileira)

Griselda Pollock (Reino Unido)

Historiadora da arte e feminista interseccional, Pollock analisa a arte a partir das relações entre gênero, classe e raça. Em textos como Vision and Difference, questiona a exclusão de mulheres e minorias das narrativas dominantes da arte ocidental. É uma das vozes mais respeitadas nos debates contemporâneos sobre representatividade e curadoria.

Citação:
“A arte não é apenas o que se vê, mas o que se permite ver.”

Catherine Millet (França)

Editora da revista Art Press, Millet é uma crítica polêmica e provocadora. Escreveu sobre arte contemporânea, sexualidade e o papel do observador na crítica. Sua autobiografia A vida sexual de Catherine M. também gerou debates sobre o corpo feminino, liberdade e subjetividade.

Claire Bishop (Reino Unido)

Autora de Artificial Hells, Bishop é uma das maiores especialistas em arte participativa, performance e curadoria contemporânea. Ela analisa criticamente os usos políticos e institucionais da participação na arte, revelando suas potências e contradições.

Livro: Artificial Hells: Participatory Art and the Politics of Spectatorship

PUBLICIDADE

Aracy Amaral (Brasil)

Historiadora, crítica e curadora, Amaral é uma referência na arte moderna e contemporânea latino-americana. Em Arte para quê?, analisa o engajamento político da arte nas décadas de 1930 a 1970, especialmente no Brasil e na América Latina. Foi uma das primeiras a construir uma crítica decolonial em território nacional.

Citação:
“A arte engajada não prescinde da poesia: ela a atravessa.”

Mónica Mayer (México)

Artista, crítica e ativista feminista, Mayer é conhecida por seu trabalho com performance e participação do público. Criou o El Tendedero, uma instalação coletiva sobre assédio e violência, e é autora de inúmeros textos sobre arte e gênero na América Latina.

Obra emblemática: El Tendedero (1978 – presente)

Lea Vergine (Itália)

Embora menos conhecida no Brasil, Vergine foi uma crítica importante no pós-guerra europeu. Atuou no reconhecimento da arte marginal e da performance. Sua escrita contundente e suas curadorias influenciaram o reconhecimento institucional de práticas até então consideradas periféricas.

Hélène Cixous (França)

Filósofa e teórica da escrita feminina (écriture féminine), Cixous influenciou profundamente o campo da crítica de arte ao propor novos modos de escrita que rompem com a lógica patriarcal da linguagem e da representação. Embora não escreva diretamente sobre arte visual, sua obra é fundamental para pensar corpo, subjetividade e discurso na arte contemporânea.

Andrea Giunta (Argentina)

Historiadora da arte, curadora e pesquisadora, Giunta é uma das principais intelectuais da América Latina no debate sobre arte, política e feminismo. Sua obra investiga desde os regimes de representação até a produção artística durante ditaduras. Foi cocuradora da 1ª Bienal de Arte Contemporânea do Sul (Bienalsur) e publicou o importante livro Feminismo y arte latinoamericano (2020), no qual defende uma crítica situada, atenta às narrativas locais e aos atravessamentos de gênero.

Livro recomendado: Feminismo y arte latinoamericano: Historias de artistas que emanciparon el cuerpo

María José Arjona (Colômbia)

Artista e pesquisadora da performance, Arjona transita entre o fazer e o pensar artístico. Embora mais conhecida por sua atuação performática, seus escritos e entrevistas se tornaram material de referência para pensar o corpo como linguagem, resistência e arquivo. Seu trabalho também dialoga com a espiritualidade, o cuidado e a crítica institucional.

Suely Rolnik (Brasil)

Psicanalista, filósofa e crítica cultural, Rolnik tem uma trajetória intelectual marcada pela interlocução com o pensamento decolonial, feminista e micropolítico. Seu livro Micropolítica: cartografias do desejo (com Félix Guattari) é leitura essencial para entender os embates entre arte, subjetividade e biopolítica. Atua também com questões decoloniais e o papel do corpo na produção de conhecimento.

Livro recomendado: Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada

Tania Bruguera (Cuba)

Artista e teórica, Bruguera é conhecida por desenvolver o conceito de arte útil (arte útil/socialmente eficaz) e por seu ativismo político. Além de performances potentes, como Tatlin’s Whisper, seus textos e propostas institucionais se tornaram referência internacional para pensar o papel social e ético da arte. É fundadora do Instituto de Artivismo Hannah Arendt (INSTAR), em Havana.

PUBLICIDADE

RELACIONADOS

CATEGORIAS

PUBLICIDADE

LEIA TAMBÉM