Notas de Walter Benjamin sobre a crítica literária: fragmentos do Programa de 1929

O filósofo e crítico alemão Walter Benjamin (1892–1940) desenvolveu reflexões fundamentais sobre o papel e os limites da crítica literária no início do século XX. Seus fragmentos reunidos no “Programa da crítica literária” (1929–1930) apresentam tanto diagnósticos sobre a decadência dessa prática em sua época quanto propostas para revitalizá-la.

Benjamin reconhece que a crítica havia perdido força, tornando-se uma atividade frouxa e até corrupta. Para ele, não bastava apelar à honestidade pessoal do crítico: era necessário reconquistar uma “boa consciência” da crítica a partir de uma nova função, estruturada em análise objetiva e estratégica, não apenas em juízos de gosto.

Entre público e círculos de leitura

Um ponto central de suas notas é a divisão do espaço literário alemão em dois blocos: de um lado, o “público”, que consumia literatura como entretenimento e sociabilidade; de outro, os “círculos de leitura”, que viam os livros como guias de vida e estatutos de pequenas associações. Benjamin critica o fato de a crítica se dedicar quase exclusivamente ao primeiro grupo, negligenciando o impacto e os perigos do segundo — que, em sua visão, continha um germe de espírito sectário e até de barbárie.

A responsabilidade do editor

Outro aspecto inovador é sua proposta de deslocar a responsabilidade crítica do autor para o editor. Benjamin argumenta que o mercado editorial, saturado de livros, desperdiçava recursos ao apoiar obras fracas. A crítica, portanto, deveria denunciar não apenas maus escritores, mas editores que, em nome de um idealismo equivocado, sustentavam atividades nocivas ao campo literário.

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Método e estilo crítico

Benjamin defende que uma boa crítica deve se compor de comentário e citação, evitando resumos de conteúdo. O gesto crítico, para ele, é semelhante a transplantar uma planta: exige delicadeza para arrancar a obra “com raiz e tudo” e recolocá-la no terreno do saber, observando como ela se transforma no processo.

Crítica materialista

Acima de tudo, Benjamin reivindica uma crítica que abandone as categorias da estética tradicional e assuma uma orientação materialista, inserindo os livros em seu contexto histórico, social e político. Esse movimento não significaria o fim da estética, mas a abertura para uma nova estética, dialética e dinâmica, capaz de renovar o vínculo entre obra e tempo.

Atualidade das notas

Mais do que um programa fechado, os fragmentos de Benjamin são esboços de caminhos para pensar a crítica em tempos de crise cultural. Eles revelam sua convicção de que a crítica não pode se limitar ao julgamento isolado de obras, mas deve atuar como prática de intervenção, desmascarando ideologias, iluminando contextos e reposicionando a literatura dentro das forças que moldam a vida social.

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