No mundo da arte, a escrita assume muitos papéis. Às vezes, ela acompanha a obra; em outras, analisa, organiza ou propõe novos sentidos para aquilo que é apresentado. Saber diferenciar os textos críticos, curatoriais e autorais é essencial para artistas que desejam entender melhor o sistema da arte e também se comunicar com mais precisão com seus públicos.
Texto crítico: análise, contexto e posicionamento
O texto crítico parte de uma postura analítica. Ele não é apenas descritivo, seu objetivo é investigar, interpretar, questionar e, muitas vezes, propor leituras que vão além da aparência da obra.
Parte de uma postura analítica diante da obra e da trajetória do artista. Mais do que descrever o que se vê, ele busca tensionar sentidos, investigar processos, situar contextos e propor leituras que ultrapassam a superfície. É uma escrita que interpreta, questiona, relaciona e, ao fazer isso, posiciona-se. Seja no campo da arte, da cultura ou da política, o texto crítico opera como ferramenta de aprofundamento e deslocamento: ele amplia os olhares possíveis, inscreve a obra em debates contemporâneos e assume o compromisso de produzir pensamento.
Características:
- Pode ser escrito por críticos de arte, pesquisadores ou curadores com abordagem crítica
- Relaciona o trabalho com contextos históricos, sociais, estéticos ou políticos
- Usa referências teóricas e comparações com outras obras ou artistas
- Nem sempre é “neutro”, pode conter posicionamentos, elogios ou questionamentos
Exemplo:
Uma crítica publicada em revista especializada que analisa a obra de uma artista contemporânea à luz do pensamento debell hooks e da história da arte afro-brasileira.
Texto curatorial: costura, narrativa e recorte
O texto curatorial acompanha uma exposição e tem como objetivo apresentar o recorte conceitual feito pelo curador. Ele serve como um fio condutor entre as obras, os artistas e o público.
O texto curatorial é o fio que conduz o olhar pela exposição. Ele apresenta o recorte conceitual feito pelo curador, explicitando as escolhas, aproximações e caminhos que estruturam o conjunto de obras. Mais do que explicar, o texto curatorial propõe uma narrativa: uma costura entre tempos, práticas e sentidos que atravessam os trabalhos e suas relações. É um convite ao público para habitar o pensamento da curadoria e, a partir dele, construir outras leituras possíveis.
Características:
- Apresenta a proposta da exposição e o que une os trabalhos selecionados
- Pode ter tom mais poético, ensaístico ou mesmo analítico
- Costuma ser assinado pelo curador ou equipe curatorial
- É escrito para o público da mostra, então equilibra informação e acessibilidade
Exemplo:
O texto de parede de uma exposição coletiva que explica por que as obras foram reunidas em torno do tema da “paisagem como memória”.
Texto autoral (ou texto de artista): expressão, processo e subjetividade
Esse é o texto escrito pelo próprio artista, seja para um portfólio, site, edital ou publicação. O foco está em apresentar o próprio trabalho a partir da experiência vivida e da intuição criativa.
O texto autoral é escrito por quem cria, com a liberdade de quem conhece por dentro o próprio fazer. Seja para um portfólio, site, edital ou publicação, ele parte da experiência vivida no ateliê, nas ruas ou nos encontros, e dá forma às intenções, dúvidas, processos e descobertas que atravessam o trabalho. É uma escrita que não precisa justificar tudo, mas que revela camadas do gesto artístico a partir de uma perspectiva íntima, intuitiva e, muitas vezes, poética.
Características:
- Aponta intenções, processos, motivações e referências do artista
- Pode ter tom pessoal, descritivo, poético ou ensaístico
- Não precisa seguir regras formais, o estilo pode dialogar com a linguagem da obra
- Funciona como ferramenta de autocompreensão e comunicação com curadores, críticos e público
Exemplo:
Um texto em primeira pessoa em que a artista narra como as memórias de infância inspiram suas esculturas feitas com objetos de cozinha.
