Em tópicos: Arte indígena

Arte indígena brasileira em 15 tópicos. Caminho para chegar na produção contemporânea de artistas indígenas que contam tradições e descolonizam o olhar sobre a arte no Brasil.

A arte indígena brasileira é tão antiga quanto a própria presença humana neste território e, no entanto, segue sendo uma das mais apagadas nas narrativas oficiais da história da arte. Muito antes da chegada dos colonizadores, povos originários já produziam imagens, objetos, cantos, desenhos e saberes que integravam arte, vida e espiritualidade de forma inseparável.

Longe de ser apenas uma “influência” para a arte contemporânea, a produção indígena é um sistema estético, político e cosmológico completo, diverso e em constante transformação.

1. As origens mais antigas da arte no território brasileiro
Povos originários habitam o que hoje chamamos de Brasil – Abya Yala, um dos nomes com os quais os povos originários denominavam suas terras, ou Pindorama, termo de origem tupi que significa “terra das palmeiras” – há pelo menos 12 mil anos. A produção artística indígena antecede qualquer forma de arte ocidental no país e se manifesta desde inscrições rupestres até complexas práticas cerimoniais.

2. A arte como parte da vida cotidiana
A arte indígena não se separa da vida. Está nos corpos, nas casas, nos rituais, nos objetos de uso diário. Pinturas corporais, trançados, cerâmicas e cantos fazem parte de sistemas cosmológicos e não são produzidos com a noção ocidental de “arte”.

3. Diversidade de povos, línguas e estéticas
O Brasil é lar de mais de 300 povos indígenas, cada um com suas próprias línguas, mitologias e formas de expressão visual. Falar em “arte indígena” no singular é uma simplificação, trata-se de um universo profundamente diverso.

4. Pinturas corporais como linguagem
Urucum, jenipapo e carvão vegetal são usados para pintar corpos em padrões gráficos complexos. Cada traço comunica identidade, papel social, estado de espírito ou intenção ritual.

5. Arte plumária: beleza e espiritualidade
O uso de penas na confecção de cocares, colares e adornos é uma das formas mais reconhecidas da arte indígena brasileira. Além de estética, a plumária carrega sentidos simbólicos e espirituais ligados a animais e encantados.

6. Trançados e cestarias
O trançado de fibras vegetais em redes, cestos, peneiras e adornos revela profundo conhecimento da matéria-prima e do território. São objetos belos e funcionais, marcados por padrões geométricos característicos.

7. Cerâmica como expressão simbólica e utilitária
Povos como os Marajoara, Tapajônica e Kadiwéu desenvolveram tradições ceramistas sofisticadas, com formas estilizadas, relevos, entalhes e pinturas. Algumas peças datam de mais de mil anos.

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8. Arte rupestre: registros ancestrais
Sítios arqueológicos como a Serra da Capivara (PI), Vale do Catimbau (PE) e a Serra das Confusões (PI) guardam pinturas rupestres que remontam a até 12 mil anos. Essas imagens registram cenas de caça, dança e mitos de origem.

9. Desenhos como forma de conhecimento
Muitos povos utilizam o desenho para ensinar narrativas míticas e histórias do mundo. Entre os Huni Kuin, por exemplo, os kene (padrões gráficos) expressam a relação entre o visível e o invisível.

10. A arte como linguagem cosmológica
Para muitos povos indígenas, a arte é uma tecnologia de conexão com espíritos, encantados, com os ancestrais e com a floresta. Ela é ritual, é cura, é comunicação com mundos outros.

11. Arte indígena e território
A estética está diretamente ligada à geografia e ao modo de vida de cada povo. Os materiais, as cores, as formas são profundamente conectados ao ambiente e ao ciclo da natureza.
O Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), que pintou a fachada da Bienal de Veneza em 2024 com padronagens indígenas e personagens da fauna e folha brasileiras. Os artistas carregam como uma forma de ressignificação do sistema de compra e venda de obras de arte uma maneira de dar visibilidade a desapropriação de terras indígenas, por meio de uma espécie de lema a ideia de “vende tela, compra terra”. Usam o dinheiro da venda de suas obras para adquirir terras na Amazônia, visando proteger a floresta e suas tradições.

12. Resistência cultural e produção artística contemporânea
Hoje, artistas indígenas atuam em diferentes linguagens – da pintura ao vídeo, da performance à instalação – e usam a arte como ferramenta de resistência, memória e afirmação de identidade.

13. Artistas indígenas no circuito contemporâneo
Nomes como Jaider Esbell, Daiara Tukano, Gustavo Caboco e Uýra Sodoma têm levado a arte indígena a bienais, museus e galerias, com discursos sobre território, corpo e descolonização.

14. Entre tradição e reinvenção
A produção atual não rompe com a tradição, ela tenta reinventar, ampliar e deslocar. Os saberes ancestrais continuam sendo a base para práticas que dialogam com o presente e com o futuro.

15. Descolonizar o olhar sobre a arte indígena
Reconhecer a arte indígena como central na história da arte brasileira exige descolonizar os modos de ver, valorizar outras epistemologias e romper com o silenciamento histórico dos povos originários.

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