Acessibilidade não é apenas rampa. Nem piso tátil. Nem só Libras. Para ser efetiva, ela precisa ser integral, considerada em todas as camadas da experiência — física, sensorial, comunicacional e até simbólica. É por isso que a proposta das seis dimensões da acessibilidade, desenvolvida por Romeu Sassaki, tem ganhado força como modelo para programas realmente inclusivos.
Essas seis dimensões são aplicáveis em qualquer espaço cultural, especialmente museus, e oferecem um mapa para quem deseja criar ambientes acessíveis para todos os públicos. A seguir, explicamos cada uma delas com exemplos práticos que podem (e devem!) ser colocados em prática.
1. Acessibilidade Atitudinal
O que é:
Diz respeito às atitudes, comportamentos e posturas das pessoas que trabalham ou frequentam o museu. Combate o capacitismo, o preconceito e o despreparo no atendimento a públicos diversos.
Soluções práticas:
- Capacitação da equipe sobre inclusão, deficiência e atendimento humanizado.
- Política institucional de acolhimento, com linguagem respeitosa e empática.
- Presença de pessoas com deficiência nas decisões e projetos de acessibilidade.
- Consultorias e parcerias com organizações da sociedade civil.
2. Acessibilidade Arquitetônica
O que é:
Envolve as condições físicas de acesso, circulação e permanência nos espaços — tanto no prédio quanto no entorno.
Soluções práticas:
- Rampas com inclinação adequada, elevadores e corrimãos.
- Vagas reservadas próximas à entrada e rotas acessíveis desde o transporte público.
- Sinalização tátil e visual nos ambientes.
- Poltronas com braços removíveis, espaços para cadeiras de rodas e bancos para descanso.
3. Acessibilidade Comunicacional
O que é:
Relaciona-se à forma como as informações são transmitidas e recebidas. Inclui linguagem, sinalização, recursos visuais, sonoros e táteis.
Soluções práticas:
- Etiquetas em braille e textos em fonte ampliada.
- Audioguias com audiodescrição.
- Libras em vídeos e mediações gravadas.
- Uso de linguagem simples e clara em textos institucionais.
- Mapas táteis e sinalizações contrastadas.
4. Acessibilidade Instrumental
O que é:
Trata dos instrumentos e dispositivos que facilitam a interação com o espaço ou o conteúdo — especialmente recursos tecnológicos ou materiais de apoio.
Soluções práticas:
- Tablets com recursos acessíveis (voz, contraste, ampliação).
- Fones com regulagem de volume e indução magnética para surdos.
- Maquetes táteis de obras e espaços arquitetônicos.
- Aplicativos com recursos de acessibilidade integrados.
5. Acessibilidade Metodológica
O que é:
Refere-se às estratégias e abordagens utilizadas para transmitir conteúdos, realizar atividades ou conduzir experiências educativas.
Soluções práticas:
- Ações educativas multissensoriais, que usam som, tato, movimento e cheiros.
- Oficinas adaptadas para diferentes públicos, sem separar por tipo de deficiência.
- Percursos sensoriais e dinâmicas de mediação que incluam todos os participantes.
- Flexibilidade na condução de visitas — com pausas, tempo estendido e adaptação de linguagem.
6. Acessibilidade Programática
O que é:
Relaciona-se ao planejamento institucional e à coerência das ações, políticas e programas com os princípios da acessibilidade.
Soluções práticas:
- Incluir metas de acessibilidade nos planos museológicos.
- Criar comissões ou núcleos permanentes de acessibilidade.
- Reservar orçamento para ações inclusivas.
- Garantir que eventos, exposições e atividades regulares sejam pensados para públicos diversos desde a concepção.
Pensar acessibilidade em seis dimensões é pensar museu como um espaço de encontro, de escuta e de presença real. Cada dimensão fortalece a outra — não basta ter estrutura sem atitude, nem tecnologia sem método.
A boa notícia é que muitas soluções são possíveis com criatividade, vontade institucional e escuta ativa. A acessibilidade é uma construção coletiva, feita com e para as pessoas.