Acessibilidade em museus não pode ser um detalhe, ela precisa ser um princípio. Falamos anteriormente sobre acessibilidade em museus e espaços culturais. Mais do que rampas ou banheiros adaptados, criar acessos reais passa por repensar desde a arquitetura até a forma como o conteúdo é apresentado, mediado e compartilhado. Reunimos propostas práticas e estruturais extraídas para formatar um guia técnico com os princípios do desenho universal para museus, centro culturais e espaços de arte e cultura.
1. Comece com um diagnóstico acessível (e participativo)
Antes de propor mudanças, é essencial conhecer as barreiras existentes. Faça um levantamento técnico, atento e com participação de pessoas com diferentes tipos de deficiência física ou intelectual:
- Mapeie as rotas de acesso, desde o transporte público até as entradas principais.
- Avalie a circulação interna: corredores estreitos, desníveis, ausência de elevadores ou sinalizações comprometem a experiência.
- Escute o público: aplique questionários a visitantes, estudantes e equipe para entender como a acessibilidade é percebida.
- Registre tudo com fotos, plantas e observações — e envolva pessoas com deficiência nesse processo.
2. Adote o Desenho Universal desde a base
Desenho Universal é um conceito que propõe criar produtos, espaços e serviços que possam ser usados por todas as pessoas, independentemente de idade, tamanho, habilidade ou condição física — sem necessidade de adaptações posteriores.
Ele surgiu nos anos 1960 nos Estados Unidos, inicialmente como “desenho livre de barreiras”, voltado para eliminar obstáculos arquitetônicos. Com o tempo, o conceito evoluiu e passou a considerar também as diferenças humanas como parte natural do processo de criação. O Desenho Universal propõe soluções que já nascem para incluir. Os sete princípios do Desenho Universal (formulados por Ron Mace e equipe):
- Uso equitativo (igualitário)
O design deve ser útil e acessível para pessoas com diferentes habilidades. - Flexibilidade no uso
Deve acomodar uma ampla gama de preferências e habilidades individuais (ex: canhotos e destros). - Uso simples e intuitivo
Fácil de entender, independentemente da experiência, conhecimento ou linguagem do usuário. - Informação perceptível
A comunicação deve ser eficaz para todos, usando múltiplas formas (visuais, táteis, sonoras). - Tolerância ao erro
Minimiza riscos e consequências negativas de ações acidentais. - Baixo esforço físico
Pode ser usado de forma eficiente e confortável, com o mínimo de fadiga. - Tamanho e espaço para aproximação e uso
Garante espaço adequado para o acesso, alcance e uso por qualquer pessoa, mesmo com dispositivos de mobilidade.
3. Torne a comunicação acessível (sem segregar)
Evite reservar recursos acessíveis apenas a um grupo. Inclua-os no circuito expositivo regular:
- Adote linguagem simples em textos de sala e materiais educativos.
- Use etiquetas em braille ao lado das obras, junto aos textos em fonte ampliada.
- Crie maquetes táteis que reproduzam obras visuais e arquitetônicas.
- Disponibilize audiodescrição
- Use Libras em vídeos expositivos e nas mediações gravadas.
4. Promova ações educativas inclusivas
Os setores educativos são potentes aliados na criação de experiências acessíveis. Exemplos que funcionam:
- Percurso sensorial: experiência guiada por sons, texturas e cheiros.
- Oficinas de Libras e comunicação tátil: para todos os visitantes, não apenas surdos.
- Informações em braille: jogos e descobertas que envolvem diferentes públicos.
- Experiências coletivas multissensoriais: para públicos com e sem deficiência vivenciarem juntos.
5. Pense além da arquitetura: acessibilidade atitudinal
A inclusão começa pelas pessoas. Não adianta uma estrutura perfeita se o acolhimento é deficiente. Algumas propostas:
- Formação continuada para equipes sobre inclusão, deficiência e atendimento.
- Consultoria com pessoas com deficiência para testar e validar propostas.
- Postura proativa: sinalize no espaço que o museu está aberto a adaptar-se às necessidades dos visitantes.
6. Projete espaços futuros com acessibilidade integral
Se você está planejando reformas ou novos espaços, essa é a hora ideal de aplicar as mudanças. Um projeto inclusivo desde o início:
- Elimina retrabalhos e adaptações caras no futuro.
- Promove uma experiência mais fluida e equânime.
- Atrai públicos mais diversos e torna o museu uma referência em inclusão cultural.